Nada disto aconteceu, por Nuno Rogeiro
Dado que o passado foi chamado à campanha eleitoral, devemos responder, puxando da memória. (...)
Quanto à experiência de poder do PS, desde a queda do cavaquismo, em 1995-96, até 2002, existe uma espécie de amnésia.
A verdade, se calhar, é que nada do que a seguir se enumera alguma vez existiu!!!
A saber:
- Acumulação de défice excessivo nas contas públicas, originando o despertar da repressão de Bruxelas, para além de incentivo irresponsável ao gasto individual e desprezo pelos apelos à moderação e à poupança.
- Saída de Sousa Franco do Executivo, depois das linhas mestras das suas políticas de saneamento da conta pública se terem tornado inviáveis, ou politicamente indesejáveis.
- Análise negra do estado da economia portuguesa, por parte de Cavaco Silva, numa famosa entrevista de Julho de 2000.
- Alegações de políticos, empresários e governantes, segundo os quais a banca portuguesa estava a ser vendida ao desbarato aos estrangeiros.
- Anunciados planos de combate à evasão fiscal, anunciados falhanços dos
mesmos planos, e anunciada continuação da dita.
- Ligações perversas da política ao futebol, com o cortejo conhecido de enxovalhos, confusões e negócios pouco claros.
- Insistência na política de co-incineração como única via possível de
tratamento de resíduos perigosos, apesar da divisão dos especialistas e
da oposição do "homem da rua", certamente manipulado por caciques e
envenenado pela Comunicação Social privada.
- Episódio dito do "queijo Limiano", ou a cedência da alma em troco de
votos no Parlamento.
- Quedas sucessivas de ministros da Defesa, conflitos entre estes titulares e o primeiro-ministro, queixas de falta de meios, espectáculo de parca mobilização de recursos para tarefas externas, divulgação pública de listas de agentes "secretos", novelo de escândalos em torno da aquisição de armamento e fardamento, cenas de estalada entre chefes políticos e chefes da "comunidade de informações".
- Tragédia da ponte de Entre-os-Rios, originando a demissão de Jorge
Coelho, e suspeita geral sobre o estado das obras públicas.
- Inundação do túnel do metro no Terreiro do Paço, e alegação de que o
mesmo foi ali feito com grande risco, sem as precauções devidas e não
levando até ao fim estudos exaustivos sobre as características do
subsolo.
- Escândalos na JAE, corrupio de acusações e alegações, e declarações
críticas do engenheiro Cravinho, dizendo que Guterres havia sido
derrotado pelos "grandes interesses" e pelos lobbies (Janeiro de 2000).
- Colapso na gestão das grandes cidades, que levou a uma maré de rejeição, em 2001, e à passagem da era PS para a era PSD, em Lisboa, Coimbra, Porto, Sintra, Cascais, etc..
- Fantasmas desastrosos, como o espectáculo de "Porto, Capital da Cultura", com obras a juncar a vida do cidadão comum, turistas perdidos e desiludidos, projectos inacabados, escândalos financeiros e "mistérios" como os da Casa da Música.
- Escândalo em torno da Fundação para a Segurança, levando à saída "apocalíptica" de Fernando Gomes do barco do guterrismo, e a sugestões
de conspirações no seio do poder, com o primeiro-ministro a saber tudo e a calar ainda mais.
- Filosofia de miséria na RTP, levando o serviço público à pré-morte,
depois de anos de insanidade financeira, extravagâncias de programação,
guerras civis de chefias e tentativas infantis de controlo político, dos
telejornais às entrelinhas...
- Desinteresse pela política por parte dos cidadãos mais de um terço
decidiu não votar nas legislativas de Outubro de 1999, mesmo depois de
Guterres ter dito que o seu pior inimigo era a abstenção.
- Estado geral de guerra civil dentro do Governo e da maioria
quase-absoluta, levando António Guterres a bater com a porta, clamando
que o país se encontrava num pântano.
Enfim, foi tudo um sonho...
Pode-se votar no regresso de um sonho?
“Penso, logo existo" - René Descartes (1596-1650) filósofo e matemático francês
Nuno Rogeiro escreve no JN, semanalmente, às sextas-feiras
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