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Casamento Civil para todas as famílias


quinta-feira, janeiro 06, 2005

A casa

Vejo-te todos os dias… nas pontas dos dedos, nas mãos, na pele, no olhar, na extensão do gesto e na dor. Há entre ti e a música que escuto uma ligação estranha, doentia, perversa. Perversa porque sempre que os primeiros acordes ecoam pelas paredes do meu quarto e pelas palmas das minhas mãos, sou transportado para o passado, para aquele dia, para aquele momento que ainda se encontra gravado nas células que ainda não conseguiram acreditar que soubeste como renunciar a um amor que parecia procurar saber para sempre a cor do teu nome.

O nome, o teu, quase já o esqueci de tal banal que se tornou, mas a cor não. Essa ficou presa a tudo aquilo que se dobrou ou se contorceu para procurar perceber, entender as formas dos teus gestos que nunca despertaram os meus olhos por completo. Uns gestos que nos poderiam trazer a paz se ao menos tu tivesses sabido fazer a guerra. A nossa guerra. A guerra que desafia, que me consome e me arde desde o dia em que te conheci. Uma guerra que me conquista todos os dias, mais segundo menos segundo. Há dias em que sou senhor, outras escravo. Há dias em que sei que te amo, outros em que sei que não te devo amar. Outros ainda em que ninguém sabe como te amo. De vez em quando também há dias memoráveis, horas específicas, segundos especiais em que sei que tu nunca soubeste a forma do gesto que calcinou o meu coração. Esta há-de ser a forma que levarei no momento da despedida. A despedida que a cada palavra que passa se torna mais breve. Mais minha, menos nossa. Bem sei que não vais lá estar nem que sequer saberás que vou partir para longe daqui e, de certo modo, de ti, mas no momento em que olhares para as tuas mãos perceberás que estar já não sou e ficar já não vou, uma vez que a janela por onde ainda espero que me espreites estará fechada…

Eu estarei à espera, nesse momento rectangular e final. À espera que me devolvas a chave da casa que nunca chegamos completamente a habitar. Sem tecto, sem soalho e sem mobília. Apenas uma cama de estrado e algum amor. O meu. A ordem de despejo já chegou. Para mim e só para mim (nunca pusemos a casa no nome dos dois…), uma vez que tu já partiste há algum tempo.

Quem há-de, agora, regar as plantas?...

PoEta +